Niterói aposta R$ 20 milhões em 'Big Brother urbano' para reduzir violência

Viver monitorado 24 horas por dia, sete dias da semana, não é o objeto de desejo de qualquer pessoa. Mas grande parte dos moradores de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, parecem aprovar a ideia de serem “vigiados” em nome da segurança. A partir de julho, os mais de 490 mil habitantes da Cidade Sorriso serão monitorados por 450 câmeras espalhadas pelos 52 bairros da cidade.

De acordo com o prefeito do município, Rodrigo Neves, diminuir a criminalidade é o principal objetivo. Segundo ele, o município foi afetado pela crise na segurança pública do Rio.

“Entendo que a segurança é atribuição constitucional do estado e compreendo que os municípios devem cobrar eficiência, mas também é preciso cooperar”, explicou ao G1 o prefeito, que importou a tecnologia da Informática El Corte Inglés, já usada para monitorar a capital espanhola Madri e a fronteira do México com os Estados Unidos.

O aumento nos índices de violência, divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), reforçam a necessidade de medidas públicas para combater a “onda de medo”. O ano de 2014, em comparação com 2013, teve 31% a mais de ocorrências de roubo na cidade. Ao todo, o ano passado excedeu 2013 com 56% a mais das tentativas de homicídio, 91% de roubos de celulares, 25% roubos de veículos e 93% de roubos de carga.

Botões do pânico
Para ter um sinal positivo nesses dados, a Prefeitura irá gastar cerca de R$ 20 milhões na construção do Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp), na Região Oceânica, que irá controlar as câmeras. Além disso, o Cisp terá ligação com 80 lugares públicos e estratégicos equipados com "botões de pânico", que serão usados para alertar possíveis emergências.

O sistema de acionamento emergencial já tem alguns pontos definidos. Eles serão instalados em cabines da PM recém-reformadas, integrando Guarda Municipal e Polícia Militar, escolas de grande porte, unidades de saúde, prédios da administração pública, como a prefeitura, universidades, terminal das barcas e rodoviária. Em cada local, um dos 160 agentes públicos que serão treinados terão a responsabilidade de apertar o botão, permitindo o acionamento imediato das forças de segurança, 24 horas por dia.

Moradores aprovam
O grande número de câmeras foi visto com bons olhos pelos moradores ouvidos pelo G1. Para eles, no entanto, é necessário que também haja policiamento para que roubos não sejam apenas registrados, mas evitados.

O estudante de economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Caio Cardoso de Souza, de 18 anos, foi assaltado na Rua Paulo Cezar, em Icaraí, há algumas semanas. Ele afirmou que as filmagens em tempo real podem ajudar a acabar com os assaltos em série, uma das principais reclamações dos moradores.

Aqui em Niterói eles costumam assaltar várias pessoas na mesma rua. As câmeras são um avanço positivo porque eles podem ver no momento onde os assaltantes estão atuando”, disse o universitário.

Rua do Perdeu

Ainda de acordo com estudantes da UFF, a Rua Visconde de Moraes localizada próxima a um dos campus da universidade, foi batizada de “Rua do Perdeu” por causa dos constantes assaltos no local. A prefeitura informou que ainda não é possível dizer em quais vias o monitoramento será feito.

Em agosto do ano passado, um bar que funcionava há 12 anos na Travessa Wadhi Curi, em São Francisco, foi fechado pela ausência de policiamento. Um aviso chegou a ser colado na porta, alertando frequentadores de que o local não iria mais funcionar. "Por falta de punidade, fechamos!", dizia o texto.

De acordo com moradores do bairro, o comerciante se mudou de Niterói e o bar está funcionando com uma nova administração. O DJ Eduardo Siqueira era frequentador do estabelecimento e informou que pouca coisa mudou. Ele aprovou a nova medida de segurança da cidade, mas disse que o principal problema é a falta de policiais nas ruas.

“Eu acho que tudo que se agrega para dar mais segurança para as pessoas é uma coisa válida. Mas acho que só as câmeras por si só não vão representar um avanço muito grande para a população. A gente escuta muita coisa, mas uma coisa que incomoda muito é a falta de policiais na rua e a demora no atendimento de uma denúncia. O que acontece muito é viatura parada, mas a gente não vê policial a pé ou nas ruas”, afirmou Eduardo Siqueira, morador do bairro de São Francisco.

[Fonte: G1]